Blog do foo bar

Dois dedos de prosa e programação

Arquivo para o mês “março, 2013”

Quanto (realmente) custa um SMS?

A resposta rápida é: muito caro. Escrevo em março de 2013, o valor por SMS é de R$0,39.

São uns poucos centavos, certo? De qualquer forma, o que é que se pode comprar com trinta e nove centavos de real, em março de 2013?

Mas quando afirmo que um SMS é caro, é por outra razão: o preço por byte (e outros detalhes).

***

Adotei uma mania “feia” ao fazer compras de alimentos e bebidas: pensar sempre no preço por quilo/litro. O quilo (o litro) une tudo, comparar duas coisas diferentes baseadas no preço por quilo (ou litro) nos dá uma noção mais clara do preço das coisas.

Tá na fila do supermercado, pensando em catar alguma daquelas porcarias coloridas que ficam expostas justamente para você, entediado, passar a mão e se entreter? Pense no preço por quilo, talvez mude de ideia.

Adoro Ruffles. Comida lixo total, mas eu gosto. Aqui em Belo Horizonte, o pacote de 100g tá custando algo em torno de 4 reais (fonte: mercado mineiro) Nesse caso a conta é fácil, multiplique por 10 (100g x 10 = 1000g = 1kg) e você descobre que essa iguaria feita de batata assada e sal custa R$40/kg. Ui.Trazido pra um referencial mais objetivo, o valor do produto fica mais claro.

Mas com serviços de telefonia não dá pra pensar no quilo, claro. No caso de serviços de dados (SMS e Internet, por exemplo), o referencial é o byte, 8 bits. Muito pouca informação, o equivalente a um caracter, uma letra (em geral), um pixel desses GIFS animados com sequências exóticas de gatinhos. Vou usar então o megabyte como medida-padrão.

Um SMS permite até 160 caracteres simples (sem diacríticos). Supus, por isso, que um SMS carrega até 160 bytes de informação útil. Descobri depois que estava um pouco errado, mas já se percebe que, por R$0,39, uma mensagem é bem cara (uma carta social, por 1 centavo, pode conter muito mais informação). Às contas:

R$0,39 / 160 = R$0,0024375 por byte

Nem é tanto assim, certo? Mas, novamente, um byte é muito pouca informação. Se a gente pensar no preço lá do Ruffles da mesma maneira, vai parecer barato também.

R$4,00 / 100g = R$0,04 por grama de Ruffes

Fazendo as contas assim, a gente mascara para baixo o custo, e pensa que está tudo bem. Vamos mudar a perspectiva:

preço por byte * 1024 * 1024 = preço por megabyte
R$0,0024375 * 1024 * 1024 = R$2.555,90

Oi? Pera lá, eu só posso ter feito alguma conta errada. Dois mil e quinhentos reais etc. por megabyte? Não, não é possível. Vamos lá: preço por byte * 1024 (igual ao preço por kilobyte) * 1024 (preço por megabyte).

É. Tá certo sim. Pagamos mais de dois mil reais por megabyte quando o assunto é SMS.

Mas, na verdade, não. Eu mencionei antes que os 160 caracteres de um SMS são equivalentes a 160 bytes convencionais, de 8 bits. Mas não são. Cada caracter de um SMS GSM ocupa 7 bits. Mudando as contas, fica ainda mais caro no preço por byte:

Equivalência em bytes dos 160 caracteres de 7 bits
160 caracteres * 7 bits por caracter = 1120 bits / 8 = 140 bytes

Preço por byte
R$0,39 / 140 bytes = R$0,0027857 por byte

Preço por megabyte
preço por byte * 1024 * 1024 = preço por megabyte
R$0,0027857 * 1024 * 1024 = R$2921,03

Mandar SMS é como comprar cigarro picado/solto/a varejo: fica bem (bem!) mais caro do que usar um serviço de dados.

Talvez a infraestrutura necessária para enviar SMS seja dispendiosa, o que justificaria o valor tão alto.

Não é o caso.

Vou acreditar na versão em inglês da Wikipedia e citar o seguinte:

O conceito de Serviço de Mensagens Curtas (SMS, em inglês) foi desenvolvido na cooperação franco-germânica para o GSM em 1984, por Fridhelm Hillebrand e Bernard Ghillebaert. A inovação do SMS é ser curto. O GSM é otimizado para telefonia, aplicação identificada como sua principal finalidade à época. A ideia para o SMS era aproveitar o protocolo GSM, otimizado para telefonia, transportando dados em canais de controle de tráfico de voz que não estivessem sendo usados momentaneamente. Dessa maneira, recursos não utilizados no sistema poderiam ser empregados para o transporte de mensagens, com custo mínimo. A única limitação é o tamanho das mensagens, que inicialmente tinham 128 bytes e posteriormente foram aprimoradas para suportar até 140 bytes.

Fonte: Wikipedia, tradução minha.

Veja, estamos pagando por um serviço marginal no sistema GSM o valor de quase três mil reais por megabyte. O SMS é implementado numa rede GSM via software, o que significa que não depende da compra de novos equipamentos. É um recurso “primitivo” – o GSM foi implementado comercialmente pela primeira vez em 1993 (não no Brasil), e segue sendo a mesma coisa até hoje: mensagens de até 160 caracteres sem diacríticos.

Ou seja: proporcionalmente, é mais barato comprar imagens do espaço feitas pelo Landsat  do que enviar um trivial SMS dizendo “As fotos do meu filho ja estao no facebook” (sem diacríticos).

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